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    A Prevenção em Psicologia Fenomenológico-Existencial


    A possibilidade de intervir a nível preventivo no que diz respeito à saúde mental tem ocupado psiquiatras e psicólogos. No campo da Psicologia, esta demanda vem sendo respondida por investigações e propostas ligadas ao desenvolvimento, à educação e a intervenções na infância, onde mais se concentram os estudos voltados para a profilaxia da saúde mental: “Qualquer intervenção na infância, psicológica ou não, pode ser pensada como medida preventiva”.

    Procedimentos são ditados ou sugeridos tendo a prevenção como objetivo, no âmbito das relações parentais, da imposição de limites, da educação, da saúde, do desenvolvimento infantil, ainda que calcados em referenciais teóricos distintos entre si. Visam à proteção à criança, carente ainda de instrumentos de defesa e sobrevivência frente às vicissitudes da vida.

    A criança evolui, regida por leis biológicas, da total dependência para a autonomia. Na infância, quanto mais dependente e constrita em necessidades a existência, menores são as possibilidades. No entanto, em qualquer idade, o eu estará submetido a condicionantes (sejam eles intrínsecos, como a condição física, ou extrínsecos, como a condição sócio-econômica e cultural). Dentre estas condições, o eu faz-se, escolhendo-se no seu fazer-se, pois enquanto há possibilidades, há escolhas; enquanto há escolhas possíveis, há liberdade. É nesta liberdade que o eu se coloca como ser próprio e genuíno. Neste sentido, a patologia psíquica diz respeito à paralisação frente à liberdade, a perda do movimento na existência.

    O existencialismo é a abordagem em Psicologia que considera o homem entregue ao mundo e a si mesmo, onde o eu constrói-se a cada ação. A existência constitui-se em risco, e não há nenhuma garantia. Se não há garantia, se não se pode prever ou antecipar o futuro, parece impossível uma ação preventiva permeada pelo pensamento existencialista.

    Martin Heidegger, filósofo alemão que viveu de 1889 a 1976, reflete em “Ser e tempo” (1986) acerca do sentido do ser, partindo do ôntico, o ser concreto, que se mostra, fechado, para o ontológico, o ser aberto. Propõe a substituição do sujeito como generalização (ôntico) e a reflexão sobre o ser-aí, dasein, ou seja, o ser lançado a todas as possibilidades da existência (ontológico), afirmando que só pela reflexão pode-se chegar ao sentido do ser. Afirma: “a ‘essência’ da pre-sença está fundada em sua existência. Para que possa ser uma constituição essencial da pre-sença, o “eu” deve ser interpretado existencialmente.” (vol. 1, p.168)

    Ao refletir sobre a cotidianidade do ser, Heidegger propõe três condições do existir humano: disposição, compreensão e discurso. “O modo de ser da abertura se forma na disposição, compreensão e discurso. O modo de ser cotidiano da abertura se caracteriza pelo falatório, curiosidade e ambigüidade. Todas essas características mostram a mobilidade da de-cadência em suas funções essenciais de tentação, tranqüilidade, alienação e aprisionamento”.  Quando a pre-sença detém-se no modo de ser impessoal (de-cadência), a disposição aparece como ambigüidade, a compreensão como curiosidade e a linguagem como falatório.

    Descritas as condições constituintes da existência, este filósofo reflete sobre a impossibilidade de alcançar o todo estrutural deste ser a partir da montagem de elementos e propõe: “a angústia, junto com a própria presença que nela se abre, oferece o solo fenomenal para a apreensão explícita da totalidade originária da pre-sença.  Esse desentranha-se como cura …. a angústia revela o ser para o poder-ser mais próprio, ou seja, o ser-livre para a liberdade de assumir e escolher a si mesmo. Do ponto de vista ontológico, … ser para o poder-ser mais próprio significa: em seu ser, a pre-sença sempre precedeu a si mesma. ”

    A cura, enquanto a priori, ser-o-que-era-para-ser, acha-se em toda atitude e situação de fato. Surge como essência da existência do homem, como o mais originário do ser enquanto vive. A morte, como limitante desta existência, limita a cura, que subsiste enquanto existe vida, dando a dimensão temporal do homem. Limitado temporariamente, o dasein desponta como ser-para-a-morte. “A morte vem ao encontro como um acontecimento conhecido, que ocorre dentro de mundo”. A presença, diante da possibilidade certa da morte, abre-se para seu poder-ser-mais-próprio. Esta é a abertura privilegiada da pre-sença que, como cura, clama pelo seu poder-ser-mais-próprio, clama a sair da impessoalidade e assumir-se como ser-para-a-morte na de-cisão.

    A idéia de prevenção ganha nova dimensão em Heidegger. Prevenir, nesta acepção, fala, portanto, da aclamação do débito em que todo ser encontra-se em relação ao seu ser mais próprio. Enquanto sorge (cuidado e cura), a prevenção surge como inerente à existência, ao ser. Apresenta-se como fundamento do ser. O cuidado de si mesmo fundamenta a existência. E a angústia é o farol que aponta, na cura, o distanciamento do ser daquilo que é seu ser-mais-próprio.

    Nesta dimensão, o lugar da prevenção firma-se com o próprio ser, dá-se no âmbito do ser-no-mundo. Desaponta como o lugar da reflexão junto ao ser, a ser cuidado na pre-ocupação. Não há garantias, não há fórmulas: há o ser e o mundo.

    A atuação profissional configura-se no encontro com o ser, no buscar junto ao ser, guiado por sua angústia, o seu ser mais próprio; resgatando junto ao ser, nas diversas situações e ocupações, o movimento existencial, o movimento do ser que se perde e se acha, que se confunde e se resgata.

    O profissional vai agir como facilitador do resgate da liberdade numa existência que se perdeu (escravizou-se) nas contingências, sejam elas externas (condições sociais e situacionais) ou internas (uma grande dor, uma grande perda, um trauma).

    Refletirá junto ao ser o seu próprio existir – seus pensamentos, sentimentos, sua atuação, a liberdade, suas possibilidades, o risco, a escolha, a autenticidade, a fidelidade a si mesmo, os limitantes da existência: morte, solidão, liberdade, promovendo o enfrentamento em detrimento da resolução.

    Myriam Moreira Protasio

     


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    Dia 29 de August de 2011 por Adail Bottesini


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