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    Conversa terapêutica: Espaço dialógico criando possibilidades


    Nas últimas décadas o desenvolvimento das abordagens Fenomenológico-Existenciais nos trazem reflexões acerca da (des)construção de conceitos que ultrapassam o empirismo inicial das teorias de terapia. Neste momento, novas teorias sobre terapia estão se voltando para uma posição mais hermenêutica e experiencial, relacional. É um ponto de vista que enfatiza “significados” como sendo criados pelos indivíduos a partir de suas experiências, nas suas relações consigo, com os outros e com o mundo que os cerca, numa construção de subjetividade que se insere numa rede relacional indivíduo-família-sociedade. Desta forma, há uma forte inclinação para a idéia de que o existir do homem se dá numa realidade de compreensão que é criada através da construção social e do diálogo.

    Esta idéia sustenta que as pessoas vivem e compreendem seu viver através de narrativas que são construídas socialmente e que é a partir delas que se constroem os significados e a organização de suas experiências. Os sistemas humanos são geradores de linguagem, e desta forma, geradores de significados, que são melhor descritos por aqueles que os constroem e neles participam do que pelos observadores “objetivos” de fora. Tomando como base esta idéia, podemos pensar que  a terapia é uma expressão de significados que se dá no que chamamos de conversa terapêutica. Esta conversa é uma pesquisa e exploração mútuas através do diálogo, um intercâmbio de mão dupla, um entrecruzamento de idéias na qual são desenvolvidos continuamente novos significados na direção da dissolução de um  problema.

    Um dos aspectos mais importantes na vida é a conversação, pois através dela nós formamos e reformamos nossas experiências de vida e os eventos, criamos e recriamos nossos significados e compreensões, construímos e reconstruímos nossas realidades e nós mesmos. Algumas conversações aumentam possibilidades, e quando isto acontece, vivemos uma sensação de auto gerenciamento, de que podemos tomar as ações necessárias para lidar com o que nos preocupa ou dificulta : os dilemas, problemas, dores e frustrações, e também para buscar o que queremos: nossas ambições, esperanças, intenções e ações. O encontro terapêutico, uma conversa terapêutica, implica então em ajudar as pessoas a acessarem a coragem e habilidade de “mover-se sobre e ao redor das coisas”, a “terem uma visão clara”, a alcançarem  auto gerenciamento.

    Os fatores encorajadores e os meios de fazê-lo são um tipo especial de conversação – um diálogo; e a atitude do terapeuta  de criar um espaço dialógico e de facilitar um processo dialógico são uma postura filosófica – um modo de ser.

    A maioria das teorias sobre terapia coloca o terapeuta como um perito objetivo, neutro e técnico, que tem o conhecimento sobre normalidade e patologia e que pode ler o mundo interno do cliente como se fosse um texto. Há um movimento que busca observar, interpretar, diagnosticar e estabelecer estratégias e metas para produzir as mudanças, o direcionamento do cliente para um caminho que o terapeuta entende ser o melhor. Neste movimento está implícita a  cultura do “saber terapêutico”, o pressuposto de que uma pessoa pode mudar a outra ou pelo menos influenciá-la a mudar; também se encontra implícita a desigualdade entre cliente e terapeuta, onde a linguagem é baseada na deficiência e presume a representação comportamental e mental de uma realidade precisa, onde o sujeito(cliente) é considerado disfuncional, o que torna o processo impessoal, desconsiderando a individualidade de cada pessoa e cada situação.

    Trabalhar a partir de uma posição de “saber,” é antecipar possíveis conclusões e limitar o desenvolvimento conjunto do novo significado. Isto significa dizer que as teorias orientadas para uma finalidade, direcionadas pelo  conhecimento e pela teoria pré-existente do terapeuta, limitam as opções acessíveis do discurso do cliente, enfatizando apenas o que já é conhecido.

    Na perspectiva Fenomelológico-Existencial vivemos um desafio da mudança de paradigma, de uma  mudança cultural que se afasta de narrativas fixas, de discursos privilegiados e verdades universais. Esta visão de mudança ou transformação influencia e requer que nos posicionemos com nossos clientes de uma maneira diferente. É o que Rogers coloca como “um jeito de ser”, e que  podemos entender como sendo  também “um jeito de estar”  no relacionamento com os outros, incluindo como nós pensamos sobre, conversamos com, agimos com, e respondemos para eles. Estabelecer uma conversa terapêutica na qual os caminhos são abertos para um diálogo sobre o que preocupa e atemoriza o cliente, requer que adotemos a posição do “não saber”, que implica numa postura e atitude na qual nossas ações comunicam uma grande e genuína disponibilidade.

    Trata-se de uma posição autêntica, natural e espontânea, portanto, única para cada relação. Esta forma-de-ser  na relação com o outro, quando emerge, parece ser melhor acolhida, favorecendo o processo, onde cliente e terapeuta tornam-se parceiros de conversação no dizer, no dar  forma e sentido ao que emerge (fenômeno), onde interpretamos nossas experiências  continuamente e interpretamos nossas interpretações. Nesta perspectiva, ambos são vistos como afetando mutuamente os significados, e isto constitui a intersubjetividade. A conversa terapêutica é então o desdobramento de possibilidades  “ainda não ditas”, das narrativas  “ainda não relatadas”. Este processo acelera a evolução de realidades pessoais e ações que emergem no desenvolvimento de novas narrativas. Um novo significado, e portanto um novo agir , é experienciado pelo cliente como uma mudança na sua organização individual e relacional.

    Parece importante ter em mente que a postura filosófica faz parte de um modo geral de ser  que  se mostra por si, e que o cliente experimenta, desde o primeiro contato com o terapeuta. O  palco para a colaboração é armado no contato inicial , mas esta postura não é uma técnica ou uma teoria, que deve ser “dramatizada”, ela é genuína , pois   na posição de terapeuta  eu quero estar aberto, mostrar interesse real, apreciar, ser respeitoso, convidativo, deixar fluir minhas características  para estar  num encontro enquanto ser humano. Eu escolho este caminho por que eu o valorizo, e esta postura filosófica me permite juntar-me ao cliente numa relação colaboradora, dialógica e de crescimento  mútuo.

    “Entro na relação, não como um cientista, não como um médico que procura diligentemente o diagnóstico e a cura, mas como uma pessoa que se insere numa relação pessoal.”

    Considerando que a terapia é um processo relacional, ela é muito sobre quem  nós somos  como terapeutas __  e quem somos naquele relacionamento __ tanto quanto quem  é o cliente e quem  ele é em relação a nós. É tanto sobre nossas próprias narrativas, a maneira como nos definimos como pessoas, e nossas identidades como terapeutas, quanto e sobre as auto-definições e identidades dos clientes.

    Fábio Nascimento


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    Dia 29 de August de 2011 por Adail Bottesini


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